Lenda

No local onde existe, actualmente, a Igreja Matriz de Bucelas existia, numa época anterior a 1522, uma frondosa mata onde abundavam os carvalhos.
Segundo a tradição, alguns aldeões avistaram uma luz intensa no interior da mata e os mais afoitos quiseram ver do que se tratava. Então, num silvestre carvalho verificaram tratar-se da imagem de Nossa Senhora do Carvalho (assim denominada pela sua localização), pelo que a levaram para lugar mais digno e próprio, para a Ermida de S. Roque em Vila de Rei. Na noite seguinte, o mesmo fenómeno foi observado, a imagem da Mãe de Deus lá estava de novo, pelo que voltaram a colocá-la na mesma Ermida. E, mais uma vez, a imagem voltava ao primitivo lugar. Daí, concluíram que a venerada imagem desejaria permanecer naquele local, tendo sido resolvido edificar uma casa para a Santa e mais tarde a construção da Igreja Matriz de Bucelas, em 1522.

«Orago Nossa Senhora da Purificação e vulgarmente Nossa Senhora do Carvalho, por ser tradição que esta imagem apareceu sobre um carvalho, no sítio onde se fundou a actual igreja.

Diz-se que a Senhora, quando aqui apareceu tinha uma tocha acesa na mão. (…)

Principiou esta povoação [Bucelas] no lugar de Vila de Rei, 1500 metros a Este de Bucelas, e onde existe ainda a Igreja de S. Roque, que foi a primeira matriz da Freguesia. Mudou-se para o sítio actual em 1522, porque tendo aparecido aqui a tal imagem em cima de um carvalho lhe edificaram um sumptuoso templo, que desde então ficou sendo a matriz da Freguesia. (…)»

Portugal Antigo e Moderno: Dicionário das Cidades, Vilas e Freguesias de Portugal,
Lisboa: Livraria Editora de Matos Moreira & Companhia, 1873, p. 500

Viscondes de Bucelas

«Foi 1º Visconde de Bucelas, Candido José Mourão Garcez Palha.

Fidalgo da Casa Real, por alvará de 4 de Junho de 1830; concelho d’el-rei D. Luís I, comendador da Ordem de Cristo, cavaleiro da Ordem de S. Bento de Avis, senhor do prazo denominado Catriá-Moráe, aldeia da jurisdição de Damão e de vários bens de vínculo e capelas situadas na freguesia de Bucelas; coronel do corpo de engenheiros do Exército da Índia; presidente do Supremo Conselho de Justiça Militar de Goa; director e lente do Instituto Profissional e da extinta Academia Militar daquela cidade; director do Arquivo Militar do Observatório Meteorológico, etc.
Nasceu em Goa, a 5 de Novembro de 1810 e faleceu a 28 de Janeiro de 1873.

Era filho de Joaquim Mourão Garcez Palha, fidalgo cavaleiro da Casa Real, do Conselho de Dª Maria II, etc. e de sua mulher, Dª Lizarda Joaquina de Mendonça Corte Real, filha de Xavier Mendonça Corte Real, moço fidalgo da Casa Real, etc.

O Visconde de Bucelas estudou, com distinção, Humanidades no extinto Colégio de S. Tomás de Aquino da Velha Goa e fez o curso completo de artilharia na Academia Militar de Goa, sendo premiado em muitos exames.

Assentou praça em 1826, foi ajudante de ordens de seu pai em 1827, oficial de engenheiros em 1837, professor de desenho na referida academia em 1838, da 6ª cadeira da escola de matemática em 1841, governador de Damão em 1845, vogal efectivo do conselho de instrução, inspector das obras públicas civis e militares e do arsenal do exército, coronel de engenheiros em 1863, director dos telégrafos, procurador da Junta da Província, provedor da Santa Casa e vice-presidente da Companhia Comercial de Goa.

Desempenhou diversas comissões de serviço público, tanto militares como civis, em diferentes pontos das possessões portuguesas na Ásia, como presidente da comissão de Obras Sanitárias para Melhoramento de Nova Goa, da comissão da Junta Protectora dos escravos e libertos, da comissão para a Introdução de Carreiras de Vapores no Mandovi, presidente da Comissão de Organização da Estatística, da Reforma do Exército, da Organização do Correio.

O Visconde de Bucelas era o coronel mais antigo do exército da Índia e não chegou a ser elevado a general, por se ter extinguido aquele exército em 1871.

Casou em 27 de Outubro de 1830 com D.ª Emília da Costa Campos de Aguiar Pereira de Lacerda, senhora do prazo denominado Deucá Pareg, aldeia situada na jurisdição da praça e cidade de Damão, filha de Hermenegildo da Costa Campos, fidalgo cavaleiro do exército da Índia e de sua mulher, D.ª Mariana Aguiar Pereira de Lacerda.

A Viscondessa de Bucelas sobreviveu a seu marido, falecendo em Goa a 9 de Abril de 1879.

Deste matrimónio houve sete filhos, dos quais mencionaremos Joaquim Mourão Garcez Palha que foi o 2º Visconde de Bucelas e Tomás de Aquino Mourão Garcez Palha que pelo seu casamento foi Barão de Combarjua.

O Visconde de Bucelas, quando faleceu, exercia o cargo de presidente do supremo conselho de justiça militar.

O título foi concedido por decreto de 23 de Agosto de 1870.

Era escritor apreciável e também pintor amador.

Foi 2º Visconde de Bucelas Joaquim Mourão Garcez Palha.

Moço fidalgo com exercício na Casa Real, por alvará de 13 de Julho de 1887; proprietário em Goa e em Portugal no concelho do Barreiro, antigo bibliotecário da Biblioteca Pública de Goa e professor da Escola Nacional da mesma cidade.

Nasceu a 8 de Maio de 1837 e faleceu a 10 de Dezembro de 1902. Casou a 12 de Agosto de 1878 com D.ª Cândida Lopes da Silva, filha de Serafim da Silva Lopes, proprietário e de sua mulher D.ª Maria Joaquina de Jesus Fernandes.

O título foi renovado por decreto de 29 de Março de 1878. (…)»

Dicionário Corográfico de Portugal Continental e Insular, vol. III, 1932, pp. 1185 e 1186